Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales
A
missão que Cristo conferiu a seus discípulos de serem “sal da
terra e luz do mundo” (cf. Mt 5,13-16), inspira-nos, como Igreja, a
manifestar solidariedade às reivindicações dos trabalhadores e
trabalhadoras, e de outros setores socialmente excluídos deste país,
que visam superar desigualdades econômicas e sociais, e
universalizar direitos, muitos dos quais, contidos na Constituição
Federal.
A
ampliação de direitos motivou trabalhadores e trabalhadoras, há
mais de cem anos, a lutarem por reduzir para oito horas a jornada
diária de trabalho, que, na época, chegava a 16 horas. O 1º de
Maio é um símbolo dessa e de outras lutas que garantiram a
conquista de muitos direitos e beneficiaram a sociedade no seu todo.
Fruto dessas lutas, a democracia em nosso país avançou e
recuperou-se quando foi cerceada.
Atualmente,
no Brasil, a democracia retrocede. Muitas decisões governamentais
estão sendo impopulares, tais como: congelamento de investimentos
sociais por 20 anos; reforma trabalhista que precariza as condições
de trabalho; privatização de empresas estatais; e favorecimento de
grandes grupos econômicos transnacionais, com perda progressiva da
soberania nacional.
Os
movimentos sociais que defendem causas justas, visando concretizar o
artigo 5º do capítulo 1, da Constituição Federal, o qual diz que
“todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza”, cumprem um papel importante para o avanço da democracia
política na direção da democracia, também econômica, social e
cultural. No entanto, esses movimentos estão sendo cada vez mais
reprimidos.
A
crise atual aponta, segundo o Papa Francisco, para a necessidade de
mudanças estruturais profundas. Assim diz ele na Exortação
Apostólica Alegria do Evangelho, nº 202: “Enquanto não forem
radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à
autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira, e
atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se
resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum”.
Dirigindo-se
aos participantes do 3º Encontro Mundial de Movimentos Populares, em
2016, assim disse o Papa: “Vós, organizações dos excluídos e
tantas organizações de outros setores da sociedade, estais chamados
a revitalizar, a refundar as democracias que estão atravessando uma
verdadeira crise”. Em atenção a esse chamado do Papa, conclamamos
as organizações de trabalhadores e trabalhadoras a contribuírem
com as mudanças estruturais evocadas por ele e reverterem a
crescente onda de criminalização dos movimentos sociais.
Manifestamos
nossa solidariedade a todas as organizações que têm sofrido
perseguições de setores antidemocráticos, ocasionando prisões
arbitrárias, condenações injustas e assassinato de suas
lideranças. Convidamos outros setores da sociedade a se mostrarem
igualmente solidários. Em sintonia com a mensagem da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, por ocasião do 1° de Maio, pedimos
que “o Senhor nosso Deus, que ‘ama a justiça e o direito’ (Sl
32,5), nos conceda a graça de construirmos juntos um país
verdadeiramente justo e democrático”.
Jales,
01 de maio de 2018.